Não que isso importe, mas...

20 setembro, 2009

Estiando-se

Quando saía de casa,
percebeu que a chuva soletrava
uma palavra sem nexo
na pedra da calçada.

Não percebeu que percebia
que a chuva que chovia
não chovia na rua por onde andava.

Era a chuva que trazia
de dentro de sua casa;
era a chuva que molhava
o seu silêncio molhado
na pedra que carregava.

Um silêncio feito mina,
explosivo, sem palavra,
quase um fio de conversa
no seu nexo de rotina
em cada esquina que dobrava.

Fora de casa,
seco, na calçada,
percebeu que percebia
no auge de sua raiva
que a chuva não mais chovia
nas águas que imaginava.

(Chuva Interior, Mario Chamie)

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial