Não que isso importe, mas...

13 abril, 2006

No limite

Aqui no meu Blog não vou estragar nenhuma surpresa sobre filmes ou séries, tampouco quero dar uma de crítico de cinema. Os verdadeiros críticos são meus amigos Renato Félix e Paulo Neto, que desempenham brilhantemente o papel. Mas como eu sou um apaixonado por filmes, não posso deixar de falar de vez em quando num que me chame a atenção (pra bem ou pra mal até). Só hoje assisti ao filme Crash, o ganhador do Oscar principal desse ano. É daqueles filmes obrigatórios. Sempre gostei de histórias que fazem refletir. Não que eu não goste de um filme descerebrado-passatempo-pipoca de vez em quando, mas meus preferidos são aqueles que deixam pensando depois dos créditos finais e até fazem ver as coisas de forma diferente. Esse é um deles. Não se resume bem um enredo tão rico e cheio de significados, mas ele é sobre a intolerância e o "choque" entre o poder e a impotência, o ódio e o amor, o branco e o negro (ou o iraniano e o latino), o pobre e o rico, enfim entre os diferentes. Trata-se de um filme perturbador, pois embora tome tom de parábola ao contar as várias histórias que se interceptam, ele é real, relevante e atemporal. Não há bem nem mal, não há respostas fáceis, nem um final feliz, mas sim lições tiradas de situações extremas, e a única certeza é a de que outras virão. Assista, vale muito a pena.

Num de seus ensaios, Contardo Calligaris escreveu sobre Crash, pra quem não leu: "...no filme, a feiúra e a loucura do cotidiano, assim como o próprio choque das diferenças, nos aparecem como provas de nossa humanidade comum. Pensando bem, aliás, a única versão possível do sonho moderno talvez seja esta: não a paz e o respeito recíproco, mas a descoberta de um lote de misérias e incertezas que enxergamos nos outros porque, no fundo, são sempre parecidas com as da gente. O sonho moderno não se realiza numa fanfarra de nobres idéias compartilhadas, mas na ternura de nosso olhar diante da imperfeição do mundo".

Abaixo, uma foto que Val tirou num dos nossos primeiros passeios por Canterbury, a foto é velha, mas tem a ver com o post. No caminho de nossa casa para o centro da cidade, escondidinha na ladeira, num muro, fica uma plaquinha com os dizeres: "Rest a while, take time to ponder on man's intolerance towards others", que eu traduziria livremente como: "Descanse um pouco, reflita por um momento sobre a intolerância do homem em relação ao seu semelhante".

É isso, hoje fico por aqui. Na esperança de que tenhamos mais consciência de que nossas diferenças nos fazem únicos e não distantes e de que vamos aprender a lidar com a imperfeição do mundo, enxergando a nós mesmos não como culpados ou vítimas, mas como parte dessa imperfeição.

3 Comentários:

  • "Each of us carries the seeds of war and the seeds of peace.
    We make a choice every day of our lives, every moment.
    To kill, to preserve.
    To grow the tree, to chop it down.
    To stand with law and right, to let loose the outlaw within us."
    Rafael Hastur

    Por Blogger Val, Às 8:38 PM  

  • Que lindo meu filho! lindo e profundo! Nos leva a refletir nas nossas diferenças para vivermos melhor nesse universo do qual você disse bem, fazemos parte não como meros expectadores, mas, como verdadeiros protagonistas.
    Beijos, saudades!

    Por Anonymous Anônimo, Às 11:57 PM  

  • Beleza de comentário ao filme. Gostei muito de Crash, mas fiquei com uma pontinha de despeito, porque não achei que era tão merecedor quanto Brokeback. Mas enfim, cinema de alta qualidade também e roteiro bem bolado. Abraços, caríssimo!

    Por Anonymous Anônimo, Às 11:32 AM  

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