Não que isso importe, mas...

28 julho, 2006

Fases do choque cultural 2

(...continuação do post anterior, onde eu descrevi as 5 fases do choque cultural de quem vai morar num novo país)

O motivo de meu interesse (atrasado alguns dirão) no assunto é que, por aqui, parecemos estar trancados na fase 3 (a da irritabilidade) há um bom tempo. A nossa fase 1 passou rápido, sendo atropelada pela fase 2, que por sua vez foi consumida sorrateiramente pela fase 3 que, nos dias de hoje, aparenta estar confortavelmente instalada. Essa famigerada etapa se manifesta, no nosso caso, de várias formas.

Já falei do transporte, esse não merece mais citação, irritou o que tinha que irritar. Me deixou de calças curtas muitas vezes em frente ao meu chefe, me fez esperar minutos e até horas, não raro, na companhia de frio e chuva. Na TV, que aliás se paga aqui até pra ver canal aberto, não passa nada que preste. A programação oscila do enfadonho ao ridículo. As companhias de celular cobram quando você liga pra um celular que não atende, mesmo que não deixe recado na caixa postal e não dão direito de mandar ou receber mensagem pela Internet, a não ser que paguemos por isso.

Pagar aliás nem sempre é fácil, já que persiste nosso velho problema do Banco. A dificuldade que eles botam aqui pra gente abrir uma conta só consegue ser maior do que a complicação de se tirar um cartão de crédito. Só quem mora aqui há um bom tempo e tem histórico de crédito pode ter um. Pra tirar o primeiro, você tem que usar uma fórmula mágica que ainda não aprendemos, por isso ainda estamos sem. O cartão que eles te dão é só de saque, mesmo assim depois de checarem até o DNA do seu cãozinho, quando finalmente à contragosto, abre-se uma conta. O ruim é que em muitos lugares (compra online, créditos no Skype, países no resto da Europa etc.) só se aceita o bendito cartão de crédito e, quando não tem saída, temos que pedir socorro a algum conhecido.

Notaram o uso de "conhecido" em vez de amigo? Pois é, estamos profundamente desencantados com as amizades daqui. As pessoas parecem sempre mais amigas dos outros. Nem quem era mais próximo merece nossa confiança, aquela coisa do "pro que der e vier" que temos fartamente nas terras de lá, não funcionam bem nas terras de cá. Eu e Val aprendemos que só podemos contar um com o outro, o que vier de sobra é lucro. A palavra amigo por essas bandas rima com decepção.

Nosso mais recente calo é a moradia. Não que seja difícil, é quase impossível. Pra quem não está sabendo, temos que nos mudar da Universidade na primeira quinzena de setembro e desde janeiro desse ano estamos procurando um lugar fora daqui, sem sucesso, uma decepção atrás da outra. Quando o preço dá pra pagar, não aceitam casais. Quando aceitam casais, não aceitam que se divida o aluguel com terceiros. Quando aceitam divisão de aluguel, não aceitam profissional ou não aceitam estudante. Quando finalmente aceitam tudo e o preço é legal: "desculpem, essa já alugamos". Estamos ganhando uns cabelos brancos nessa busca com prazo marcado. Espero que tantas dificuldades valham a pena, amanhã mesmo temos mais um lugar pra visitar... Dedos cruzados.

Pra quem conseguiu ler até aqui esse desabafo, a foto lá de cima foi tirada nos arredores de Dublin, na frente de um restaurante de comida caseira que tinha no letreiro, em irlandês: "Níl aon tintéan mar do thintéan féin", que se traduz na seguinte verdade: "Não há lareira como a nossa lareira" ou "Não há casa como nossa casa".

4 Comentários:

  • É verdade, não há mesmo lugar como nossa casa. Ou, "não há lareira como a nossa" :).
    Ainda tenho esperanças que essa fase mude para a fase 4 logo, e tenho certeza de que isso vai acontecer eventually.
    E ainda bem que temos um ao outro, porque se não fosse por isso, essa fase seria a mais propícia a se largar tudo e voltar pra casa.
    Te amo.

    Por Blogger Val, Às 4:30 AM  

  • Se bem que também não temos "casa" por lá, então não conseguiria me sentir em "casa" propriamente...
    :(

    Por Blogger Val, Às 4:31 AM  

  • Olá Paulinho,
    Realmente não há lugar melhor do que nossa casa. Quando digo nossa, é a própria, não a dos pais, tios etc. Também estou passando por uma fase de adaptação e é sempre bom ler comentários assim, como você faz sobre coisas da vida.
    Se você tem uma psicóloga em casa que possa te ajudar e um ao outro, eu tenho minha arquiteta que me ajuda a planejar e construir meus sonhos...
    Um grande abraço.

    Por Anonymous Anônimo, Às 12:34 AM  

  • Meus queridos deem notícia pelo e-mail, pois ainda estamos sem computador em casa.
    Meu filho querido, aqui fica minha sugestão: você deve escrever um livro sobreïmpressões de viagem",como sempre sua "fanzona",
    ama tudo o que vc ou melhor vcs escrevem.
    Beijos carinhosos de mamãe, papai e Cau.

    Por Anonymous Anônimo, Às 4:46 PM  

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