Transporte público, difícil em todo canto
Com tanto tempo desde a última atualização, o título de minha última postagem (Ponto Final) deu até a impressão de que eu não escreveria mais por aqui, o que obviamente, não é o caso.
A verdade é que a vida voltou à rotina dos dias longos de trabalho e um dia sentado na frente do computador numa sala com outras duas pessoas não deixa mesmo espaço pra histórias, mesmo desimportantes. Quando chego à noite, janto, tomo um banho, lavo os pratos e, no tempo que sobra, às vezes dá pra ver um filme, às vezes nem isso e já é hora de ir pra cama.
Mas hoje eu tenho uma história diferente pra contar (ainda não é importante, mas é, ao menos, diferente). É que o serviço de ônibus daqui de Canterbury provou-se uma lástima quando eu passei a depender dele pra viajar todos os dias pra trabalhar. Digo viajar porque, pra quem não sabe, daqui até Aylesham (a cidadezinha em que trabalho) é como se fosse da Madalena até Jaboatão ou de Manaíra a Santa Rita, é aquele perto que a gente não gosta de ir todo dia. Bom, não seria tanto problema se sempre houvesse ônibus e num horário certo, mas acontece que esse às vezes simplesmente dá de não sair, de não aparecer. Já passei intermináveis minutos na Estação Central, no meio de colegiais barulhentos e fumantes compulsivos, esperando por um ônibus que pode ser cancelado sem notícia prévia. Ou seja, nunca se deve pensar que só porque é Europa não existe desrespeito com o usuário e incompetência pra organizar um serviço público.
Assim como no Brasil, existe fiscal. Fui reclamar desde a primeira vez com ele, já que ficar calado nessas situações não é comigo. No início, ele vinha com a desculpa de que o ônibus tinha saído sim, eu é que não vi, ou cheguei tarde. Aí passei a procurar ele antes da hora marcada pra partida e ele acabava dando um jeito do carro sair com atraso. Mas nas últimas vezes, nem isso. Segundo ele, não tinha motorista (!!!). Resultado: de tanto encher a paciência dele, inclusive ameaçando fazer uma reclamação formal, eu consegui que ele me colocasse hoje dentro de seu próprio carro, junto com outra pessoa que ia pro mesmo lugar e fosse me deixar lá no trabalho. Meu chefe riu com a história inusitada, eu chegando pra trabalhar de Toyota e, o que é melhor, de motorista.
Minha conclusão é: incompetência existe sim em todo o canto, o que muda é a forma de lidar com ela e a vontade de buscar uma solução. Minhas reclamações surtiram efeito, a linha mudou, a rota mudou e com certeza, a falta de motoristas designados será resolvida ainda amanhã. Mas que deu dor de cabeça, ah, isso deu.
Fora isso, dos últimos filmes que vi, quero citar Tudo em Família, que apesar de previsível e meio meloso às vezes, é divertido e faz a gente querer reunir pai, mãe, irmãos pra passar aquele tempo juntos. Um tempo a que a gente parece nunca dar valor na hora em que deve se dar. E outro é O Sol de Cada Manhã, com Nicolas Cage como o homem do tempo da TV. É um filme que merece destaque por não ficar na mesmice. Um cara feio, pouco interessante, problemático, desajeitado, sem amigos, divorciado e que não sabe como lidar com os filhos procura algo pra manter sua sanidade, é bom no que faz em seu trabalho e procura colher frutos dessa habilidade, cria novos hobbies, busca soluções que às vezes só pioram, mas sempre luta muito pra mudar. Ao contrário do que acontece em muitos outros filmes, ele não se transforma no cara mais maravilhoso do mundo, não fica lindo e simpático de uma hora pra outra, não tem tudo à sua volta resolvido num passe de mágica, ele apenas encontra saídas e aprende a conviver da forma que dá com o que não conseguiu mudar, isso sim parece mais com o que acontece na vida real. Os românticos podem dizer: pra ver realidade, assistiria ao noticiário e não a um filme, eu concordo em parte, mas acho que é das histórias reais, quando bem contadas, que saem as melhores lições e melhores reflexões sobre nosso dia a dia.
Abraços a todos.
A verdade é que a vida voltou à rotina dos dias longos de trabalho e um dia sentado na frente do computador numa sala com outras duas pessoas não deixa mesmo espaço pra histórias, mesmo desimportantes. Quando chego à noite, janto, tomo um banho, lavo os pratos e, no tempo que sobra, às vezes dá pra ver um filme, às vezes nem isso e já é hora de ir pra cama.
Mas hoje eu tenho uma história diferente pra contar (ainda não é importante, mas é, ao menos, diferente). É que o serviço de ônibus daqui de Canterbury provou-se uma lástima quando eu passei a depender dele pra viajar todos os dias pra trabalhar. Digo viajar porque, pra quem não sabe, daqui até Aylesham (a cidadezinha em que trabalho) é como se fosse da Madalena até Jaboatão ou de Manaíra a Santa Rita, é aquele perto que a gente não gosta de ir todo dia. Bom, não seria tanto problema se sempre houvesse ônibus e num horário certo, mas acontece que esse às vezes simplesmente dá de não sair, de não aparecer. Já passei intermináveis minutos na Estação Central, no meio de colegiais barulhentos e fumantes compulsivos, esperando por um ônibus que pode ser cancelado sem notícia prévia. Ou seja, nunca se deve pensar que só porque é Europa não existe desrespeito com o usuário e incompetência pra organizar um serviço público.
Assim como no Brasil, existe fiscal. Fui reclamar desde a primeira vez com ele, já que ficar calado nessas situações não é comigo. No início, ele vinha com a desculpa de que o ônibus tinha saído sim, eu é que não vi, ou cheguei tarde. Aí passei a procurar ele antes da hora marcada pra partida e ele acabava dando um jeito do carro sair com atraso. Mas nas últimas vezes, nem isso. Segundo ele, não tinha motorista (!!!). Resultado: de tanto encher a paciência dele, inclusive ameaçando fazer uma reclamação formal, eu consegui que ele me colocasse hoje dentro de seu próprio carro, junto com outra pessoa que ia pro mesmo lugar e fosse me deixar lá no trabalho. Meu chefe riu com a história inusitada, eu chegando pra trabalhar de Toyota e, o que é melhor, de motorista.
Minha conclusão é: incompetência existe sim em todo o canto, o que muda é a forma de lidar com ela e a vontade de buscar uma solução. Minhas reclamações surtiram efeito, a linha mudou, a rota mudou e com certeza, a falta de motoristas designados será resolvida ainda amanhã. Mas que deu dor de cabeça, ah, isso deu.
Fora isso, dos últimos filmes que vi, quero citar Tudo em Família, que apesar de previsível e meio meloso às vezes, é divertido e faz a gente querer reunir pai, mãe, irmãos pra passar aquele tempo juntos. Um tempo a que a gente parece nunca dar valor na hora em que deve se dar. E outro é O Sol de Cada Manhã, com Nicolas Cage como o homem do tempo da TV. É um filme que merece destaque por não ficar na mesmice. Um cara feio, pouco interessante, problemático, desajeitado, sem amigos, divorciado e que não sabe como lidar com os filhos procura algo pra manter sua sanidade, é bom no que faz em seu trabalho e procura colher frutos dessa habilidade, cria novos hobbies, busca soluções que às vezes só pioram, mas sempre luta muito pra mudar. Ao contrário do que acontece em muitos outros filmes, ele não se transforma no cara mais maravilhoso do mundo, não fica lindo e simpático de uma hora pra outra, não tem tudo à sua volta resolvido num passe de mágica, ele apenas encontra saídas e aprende a conviver da forma que dá com o que não conseguiu mudar, isso sim parece mais com o que acontece na vida real. Os românticos podem dizer: pra ver realidade, assistiria ao noticiário e não a um filme, eu concordo em parte, mas acho que é das histórias reais, quando bem contadas, que saem as melhores lições e melhores reflexões sobre nosso dia a dia.
Abraços a todos.
2 Comentários:
Pois é, como eu disse no post sobre curiosidades no Livro dos Dias, são coisa nem tão curiosas assim sobre morar na Inglaterra que fazem a gente notar que o Brasil, por mais bagunçado que seja, não é o pior lugar do mundo como muitos pensam. E concordo em gênero, número e grau com relação aos filmes. Tudo em família me fez chorar feito um bezerro sem mãe e O sol de cada manhã (que título mais estranho pra The weather man!), apesar de deixar a gente meio nervoso pq tudo dá tão errado pra ele, é realmente uma busca por soluções reais pra uma vida real e tão comum de se encontrar hoje em dia: o de uma pessoa infeliz no trabalho, com péssimas e difíceis relações familiares e que acha que não merece e nem sabe se dar uma segunda chance.
Por Val, Às 4:43 AM
Coincidência ou não, falar de transporte numa semana em que me dedico a escrever sobre ônibus, tem lá sua graça. Tudo começou graças a uma obsessão: um conto de Julio Cortázar que é o meu conto de cabeceira (tem isso também!). Chama-se (vamos ver se adivinha....) ônibus. O conto todo é uma viagem de ônibus de uma moça que vai a um determinado lugar visitar sua amiga. Só que para azar dela, ela pega um transporte onde todos os passageiros vão ao cemitério, todos têm flores, menos ela. Daí, tome situação de estranhamento com esse povo estranho que não deixa de olhar para ela com um ser de outro mundo. E para completar....bem, não digo mais...espero um dia conseguir arrumar este conto para vocês lerem. No mais, gostei das indicações de filmes. Estarei de olho! Ah, tem continho novo no meu novo blog. Da amiga Rosa. Abraços!
Por Anônimo, Às 9:09 AM
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