Não que isso importe, mas...

27 outubro, 2006

Kate Winslet, ao vivo!

Minha história começa no primeiro semestre de 1996 quando, assistindo pela primeira vez ao excelente filme de época Razão e Sensibilidade, fiquei fascinado pela atriz que fazia o papel de Marianne Dashwood (a Sensibilidade). Procurei saber mais sobre ela e virei fã logo depois de alugar o anterior Almas Gêmeas. Suas atuações eram marcantes e não-triviais, eu tinha certeza de que aquela moça tinha futuro.

Katherine Elizabeth Winslet, nascida exatamente um mês antes de mim na cidade de Reading, condado de Berkshire, aqui pertinho de onde moramos, só teve reconhecimento mesmo depois da megaprodução Titanic de 1997. Minha atriz preferida se tornava então centro de atenção em escala mundial, embora o melhor papel e o melhor filme de sua carreira, segundo a opinião de maioria dos fãs e dela mesma, só viriam em 2004, com Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.

Encontrar pessoalmente uma celebridade de cinema internacional no Brasil é uma raridade. O fato de não morar nem no Rio nem em São Paulo, somado ao detalhe de que seu ídolo mora em Londres e não é muito de sair da Europa, não ajuda nem um pouco na realização de um sonho que nasce praticamente impossível. As voltas que a vida dá me trouxeram à terra da Rainha Elizabeth, onde hoje me vejo morando a apenas alguns quilômetros da capital da Inglaterra. O festival de Cinema de Londres, que acontece em 2006 de 18 de outubro a 2 de novembro e apresenta premieres mundiais e européias, mostrou-se de cara uma chance que não se podia desperdiçar pra ver os atores pessoalmente e de perto. Corri pra comprar o ingresso no site. Sessão lotada, ingressos esgotados, dizia a página. Sem me dar por vencido, liguei pra o número de atendimento informado, pedindo que a moça desse uma olhada melhor. "Ah, espere um pouco,temos um lugar ainda, você quer?". Dias depois, meu ticket chegava em casa pelo correio. Falei com Vinícius, um amigo que mora em Londres, e acertei de dormir na casa dele. Era o sonho mais perto de se realizar.


BBC Online26 de outubro, cinema Odeon West End na Leicester Square, cinco da tarde, embaixo de muita chuva, público e imprensa se aglomeram, entre gritos e empurrões, na luta por um lugar mais próximo ao tapete vermelho que levava da entrada do cinema até a rua mais próxima. Eu, estando ali para a premiere do filme Little Children, no qual estrelam Kate e Jennifer Connely, fui pego de surpresa por tamanha algazarra, já que o filme só começaria as 20:30. Chegando mais perto, notei que antes teríamos premiere de outro filme no mesmo cinema.Tratava-se de Borat, uma pérola do cinema idiota e alienado como só os americanos sabem fazer. Apresentando o que tem sido aclamado por muitos aqui como um dos filmes mais engraçados já feitos (sic!), o evento trouxe a presença do ator principal, Sacha Cohen (caracterizado) e de outras celebridades locais menos conhecidas por nós brasileiros, como Trinny da dupla Trinny e Suzannah e Jesse Metcalfe de Desperate Housewives, entre outros. Por volta das 19h, com todos já dentro da sala, os fãs de Borat vão sumindo aos poucos e dando espaço a novos curiosos e interessados na próxima sessão, como eu. Nesse momento, consigo me enfiar num lugar que me dava visão perfeita da entrada do cinema, aos pés do tapete vermelho. Com a saída dos famosos que acabavam de assistir ao filme das 18:30, percebi que minha posição era mesmo privilegiada, a maioria deles parava e vinha dar autógrafo e tirar foto com pessoas do meu lado. Ficar por ali era boa estratégia, o tempo ajudou e a chuva parou.

Quase oito horas da noite, em pé por 3 horas, minha ansiedade aumentou quando ouvi o porteiro gritar que estava liberada a entrada para a próxima sessão pra quem tinha ingresso. Não havia outra entrada, nosso caminho era o mesmo tapete vermelho, onde passávamos sob olhares de inveja no alto de nossa gloriosa anonimidade.

20:15, a poucos minutos da hora marcada pro filme, nenhum sinal de celebridade. Os chamados pra entrada continuavam, insistentes. Foi nessa hora que eu cometi o pior erro da noite. Olhando o hall de entrada, calculei que ali estaria bem posicionado e no meio de menos loucura quando ela aparecesse, melhor ângulo pra uma foto posada quase exclusivamente pra mim. Resolvi colocar o plano em prática e entrei. Mais tarde, não me perdoaria por isso.

20:20, o mesmo porteiro que gritava do lado de fora manda todos que não são imprensa sairem do salão de entrada e tomarem seus assentos. Pensando rápido, corri pra lojinha que tinha ali dentro e comprei um Häagen-Dazs, pra enrolar, já que sabia que não podia entrar com ele. Essa foi por pouco, pensei.

20:30, um carro enorme chega rápido pelo tapete e um motorista abre as portas pra uma lindíssima e radiante Kate Winslet, a noite ficou clara com os milhões de flashes e holofotes acesos por todos os lados, os gritos enlouquecidos dos fãs rivalizavam com os dos fotógrafos. Kate sorriu pras câmeras rapidinho e com um aceno disse um "espera um pouco", correndo em seguida na direção da grade baixa que a separava da multidão. De cara no chão, escondido e preso do lado de dentro, assisti atônito através da porta de vidro enquanto ela tirava foto e dava autógrafos inclusive às mesmas pessoas que ocupavam o lugar que eu acabara de deixar.

BBC Online 20:40, ela finalmente parecia que ia entrar no cinema. Saí do meu esconderijo, jogando fora metade do sorvete derretido e me posicionei ao lado do repórter da BBC. Uma loura com crachá de organização veio me perguntar se eu estava com a imprensa. Falei um não amarelo e acanhado e prometi a ela que não me faria notar. Ela, ríspida, mandou que me afastasse pra dar espaço à imprensa. Me afastei até ter certeza de que não havia ninguém atrás de mim. Minha posição, com dois jornalistas na minha frente, ainda era muito boa. Escapei de novo.

20:50, Kate dá entrevista a dois metros de mim, só vejo o corpo dela, o rosto está encoberto pela câmera, bato uma foto que sai com um braço de jornalista no meio. Mas vi que ela não teria como desviar dos repórteres que estavam na minha frente e esperei, calmamente. De súbito, meu olhar encontra o da mesma loura de minutos atrás, agora apontando pra mim enquanto falava no ouvido do segurança mais próximo. Agora não tinha jeito, saí antes que o sósia de Mike Tyson chegasse perto e me dirigi à entrada, fingindo ter perdido o ingresso. Ocupado, ele esqueceu de mim. Eu ganhava tempo enquanto Kate se aproximava cada vez mais, a uns 3 metros de mim, mas nada de foto, pois meu teatro só durou tanto quanto a curta paciência do rapaz que recebia os ingressos. Vencido, entrei.

21:00, já com meia hora de atraso, Kate e o diretor do filme falam no palco em frente à tela. Como minha poltrona ficava perto, tirei a única foto dela na noite e fiz uma curta filmagem. Mas eles foram muito breves e o filme começou em seguida. Kate sentou numa das últimas poltronas do cinema (os lugares eram marcados) pra poder ver a reação da audiência, o que ela adora fazer.

23:15, fim de filme. Atrasadíssimo, tento ligar pra Vinícius, mas não consigo achar meu celular na bolsa cheia. Fico pra trás, todos saindo do cinema. Acho meu celular, a bateria morre e eu me vejo no meio de Londres sem ter como me comunicar com meu amigo, sem saber chegar em sua casa e sem saber seu número de cor (estava na agenda do celular). Desconsolado, paro em frente ao cinema com a rua deserta na minha frente e alguns seguranças logo atrás, eles ainda mantinham posição, embora não houvesse mais ninguém do público. Ocupado em tentar ligar o celular, quase não noto no Audi quatro portas preto que pára a minha frente e no motorista que desce parecendo me convidar a entrar. Quando me dou conta, Kate, que ainda estava dentro do Odeon, passa com os cabelos agora soltos e sorridente do meu lado, tão perto que dá pra sentir seu perfume. Eu fico parado olhando ela entrar no carro, seguida de dois homens, provavelmente agentes ou produtores. Como o carro não saía, fui para o outro lado tentando ver de novo e acreditar. Ela acende a luz interna pra retocar a maquiagem e eu, de fora, pareço um menino de rua no sinal quando pára um carrão. Um dos caras me nota, sorri e chama a atenção dela, que olha pra mim. Assim que eu percebo seu olhar, baixo os olhos e dou meia volta, procurando me esconder. Quando volto a olhar, a luz interna está apagada e o motorista já faz a manobra pra sair. Chegava ao fim uma noite não menos que inesquecível.

7 Comentários:

  • Meu Filhooooooooooooooo, isso daria um filme " A saga de um fã". Shoooooow. Viu cmoo a gente fica quando chegamos perto de nossos ídolos. A gente fica parado, olhando como se eles fossem verdadeiros ET´s e querendo ver se realmente são de verdade. rsrsr Por isso é que dá aquela sensação de "embasbacamento geral", seus músculos travam, sua garganta seca, vc fica sem voz, que loucuraaaa. Depais que tudo acaba a gente fica com ódio de si mesmo, e morrendo de culpa por não termos sido mais ativos. Da segunda vez melhora rsrsr Eu até consegui dá um cheiro na cabeça de Oswaldo rsrsr Vc começou bem.

    Adoreiiiiiii.
    Bjo,
    Saudade,
    Amo vc.

    P.S: Ah, meu filho, ia esquecendo de te dizer uma coisa; tia sônia fez a cirurgia dela, deu tudo certo e ela deve ficar só alguns dias no hospital Santa Joana.

    Bjo grande pra vc e pra gatinha.

    Por Anonymous Anônimo, Às 8:38 AM  

  • Ah, esqueci de perguntar, com oé que vc chegou na casa de Viníciuus ?? rsrsrs

    Por Anonymous Anônimo, Às 8:42 AM  

  • Pois é, eu sabia que eu deveria ter ido pra esse festival. Pelo menos, eu poderia ter tentado tirar alguma foto enquanto vc bancava o fã apaixonado.
    Mas tenho certeza de que foi inesquecível. E só ver tua carinha contente, descrevendo como tudo aconteceu, já fez ver que valeu a pena.

    Por Blogger Val, Às 1:33 PM  

  • Poxa, Paulinho, com esta crônica de um amor louco, você fez todas as minhas tentativas tupiniquins de tentar me aproximar de alguns ídolos (muitos da literatura)pálidas odisséias. De qualquer forma, acredite, o que você conseguiu já é muita, mas muita coisa. Poucos no mundo poderiam guardar para o coração de fã uma empreitada do seu calibre. Tudo bem que você usou mais a sensibilidade do que a razão. Mas chegou perto, sentiu o perfume, gravou na memória. Parabéns!

    Por Anonymous Anônimo, Às 2:54 PM  

  • Cara, isso dá o roteiro de um filme! Muito engraçado sua saga! :) E como você chegou na casa de seu colega? Devia ter pego uma carona com KW. :)
    Abraços,
    Fernando Galvão.

    Por Anonymous Anônimo, Às 12:17 AM  

  • Ei amigo, que engraçado!!! nossa, mas pelo menos vc chegou perto dela, coisa q milhares de nós nunca vão fazer, em relação aos nossos ídolos... quero ver as fotos q vc tirou, se é q tem alguma boa...hehehehe
    beijo grande
    Lu

    Por Anonymous Anônimo, Às 3:33 PM  

  • Nosssssaaaaaaa te adoro:Tudo o que eu queria fazer!PARABÉNS!qUE BOM Q VC CONSEGUIU!ela ainda mora na Inglaterra?Londres?

    Por Anonymous Gabriella Alves-RJ, Às 12:49 PM  

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