Não que isso importe, mas...

20 dezembro, 2006

Que país é esse? (Parte 1)

O Brasil vive mais um daqueles momentos de perplexidade com a política nacional. Pra ser mais exato, com suas excelências os deputados e senadores. Senhores que são colocados em posto privilegiado para defender os interesses da sociedade, mas que passam o tempo de forma menos produtiva justificando suas ausências, debatendo projetos inúteis e achando uma forma de aumentar o próprio salário.

Interessante como muita gente não sabe, ou não liga, mas é sempre bom registrar que deputados deveriam se reunir de 02/02 a 17/07 e de 01/08 a 22/12 de cada ano, mas o que se vê na prática é um descaso. Segunda e sexta são dias conhecidamente vazios no plenário e, no entanto, todas as faltas são facilmente justificadas. Estes senhores recebem, além do salário mensal de R$ 12.700, um salário extra antes de cada ano e um extra depois, além do 13º (por isso conhecidos como 14º e 15º salários) e os seguintes benefícios mensais: de R$ 4.100 a R$ 16.500 para passagens aéreas (dependendo do Estado de origem); R$ 3.000 de auxílio-moradia; até R$ 15.000 para gastos com escritório e locomoção (conhecido como verba indenizatória) e, por fim, de R$ 50.000 a R$ 80.000 para gastos com pessoal (aqui, entra o emprego pra aquele sobrinho ou cunhado que não arranja nada).

Uma emenda constitucional em 2003 estabeleceu que o servidor público federal não poderia receber mais do que o ministro do Supremo Tribunal Federal (que recebe hoje R$ 24.500). Desde lá, muitos deputados e senadores lutam pela "equiparação", tentando chegar eles também ao teto. Foi isso que tentaram os ilustres membros do parlamento, através de algumas lideranças no fim da semana passada. A notícia saiu tímida na Veja e foi bem coberta pela Folha de São Paulo.

Acontece que os únicos beneficiados não seriam apenas os 594 Deputados e Senadores. Segundo a Constituição, estes salários estão vinculados aos membros do Legislativo Estadual (1.059 deputados estaduais e distritais) e do Legislativo Municipal (51.819 vereadores), que teriam os salários aumentados proporcionalmente, gerando um gasto de cerca de R$ 2 bilhões por ano.

Apostando que a sociedade se revoltaria, mas logo esqueceria, os homens do poder seguiram em frente. Alguns poucos deputados como Fernando Gabeira (PV-RJ) e Raul Jungmann (PPS-PE) tomaram uma atitude e apresentaram seu protesto ao Supremo Tribunal Federal. O órgão julgou que o aumento não podia ser dado pelo Decreto em que eles estavam se baseando (pois era de 2002), teriam então que votar em plenário um novo decreto. Ou seja, o STF lavou as mãos ao não entrar no mérito da imoralidade do aumento e meio que disse: "vocês que são brancos que se entendam" e ainda posou de herói pra aqueles que só olham as notícias superficialmente. O Executivo seguiu o exemplo do Judiciário. Ao ser perguntado sobre o aumento, um ministro falou laconicamente que a "decisão deve ser política" (?) e o Presidente não deu nenhuma declaração antes do veto do STF, depois do qual, filosofou, saindo-se com mais uma de suas pérolas do discurso óbvio: "Num dia, os juízes vão perder. No outro, os ministros vão perder. No outro, é o governo quem perde. No outro, a Câmara. E, no outro, o Senado" (sic!). Mas tudo bem, ele pode falar o que quiser e fazer o que quiser, ninguém é louco de criticá-lo nesta pasmaceira que é o Brasil de hoje.

Aqui está uma imagem com as fotos, nomes e partidos de cada um dos inimigos do povo publicada na Veja. A imagem é grande, certifique-se de vê-la por inteiro. Anote bem, eles vão voltar a aprontar, mais cedo ou mais tarde.

A quem tiver vontade de ficar de olho, vigilante, recomendo os seguintes sites, com muita informação:

  • Perfil Transparência (mostra entre outras coisas o histórico político de cada Deputado e as ações que existem contra ele, bem como as menções a seu nome nos noticiários sobre corrupção);

  • Políticos do Brasil (aqui achamos os bens de cada parlamentar declarados à Justiça Eleitoral e muitos outros detalhes);

  • Câmara dos Deputados (site oficial, completo com o texto e informações sobre todos os projetos apresentados por cada Deputado durante o mandato);

  • Blog do Reinaldo Azevedo (várias atualizações diárias com uma análise detalhada da política brasileira);

  • UOL Política (não precisa ser assinante, notícias diárias de Brasília, muitas vezes com ótimo toque de humor).

A informação está aí, agora resta saber o que você vai fazer com ela. Há duas opções: 1) sentar em casa e continuar reclamando da vida ou fechando os olhos pra tudo aquilo que não o atingir diretamente ou 2) tomar uma atitude, mesmo que seja juntar um grupo de amigos e discutir, fazer com que a notícia se espalhe, ressaltando sua importância, abrir os olhos dos que não querem ver e acordar os que vivem em estado de paralisia porque dizem detestar política. Em alguns casos, vale a pena até organizar um grupo e sair às ruas, se fazendo ouvir. Enfim, acreditar que protestar e debater faz a diferença é essencial, pois se deixarmos de acreditar nisso, eles é que terão mudado nossas idéias. Qual sua escolha?

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