Não que isso importe, mas...

21 março, 2008

Força x Talento, o desaparecimento da beleza nos gramados.

St. Andrews Ground, Birmingham, Inglaterra. 23 de fevereiro de 2008, sábado de sol. O poderoso e riquíssimo time londrino do Arsenal, então líder da Premier League (campeonato inglês de futebol) visita o inexpressivo time do Birmingham City que, poucos pontos acima da zona de rebaixamento, briga pra se manter na primeira divisão. Por volta dos 5 minutos de jogo, o zagueiro Taylor, vestindo a camisa número 4 do time da casa, dá uma voadora criminosa e quebra a perna do camisa 9 do Arsenal, Eduardo da Silva. Nascido no Brasil e naturalizado croata, Eduardo foi informado no mesmo dia que ficaria fora do futebol até pelo menos outubro, quando deverá voltar a treinar com bola e, com trabalho intensivo, poderá estar em condições de jogo antes de completar um ano de sua contusão.

Não é possível, no entanto, dizer se voltará a ter a mesma forma, que o levou a marcar 4 gols e dar tantas outras assistências, num dos mais duros campeonatos europeus, além de ajudar sua seleção, a Croácia, a desclassificar a própria Inglaterra das finais do campeonato Europeu de seleções, o qual não poderá jogar. O jogo terminou 2 x 2, o que reflete diretamente o receio que os milionários jogadores do Arsenal tiveram em assitir ao resto da temporada pela TV de uma sala de fisioterapia.

Enquanto isso, do outro lado, a FA (associação inglesa de futebol) anunciou nesta semana a suspensão do zagueiro Taylor por 3 jogos, algo em torno de 2 semanas, período depois do qual, descansado, poderá voltar a distribuir pancadas em seus colegas de profissão e, com um pouco de sorte, privá-los de exercer um futebol vistoso e alegre, porque afinal de contas, futebol é coisa séria, de macho e não arte, beleza ou qualquer frescura similar. Hmpf. O ideal, nesses casos, seria que o agressor fosse suspenso do futebol, pelo menos enquanto o jogador contundido estivesse afastado dos campos.


Mesmo antes de vir morar aqui na Inglaterra onde, com alguma relutância, passei a acompanhar mais de perto o campeonato local, auto-proclamado melhor do mundo, eu sempre fui contra o futebol físico e combativo (no pior sentido da palavra), difundido especialmente pelos ingleses, que parecem seguir o exemplo dos alemães. Empenho e força são fáceis de se adquirir com treino e disciplina. Talento até se desenvolve em alguns sujeitos depois de muita aplicação, mas brilhantismo é nato, não aparece com o tempo, por mais que se sue a camisa. O campeonato italiano e, especialmente, o espanhol estão aí pra provar que não é preciso ser violento pra se jogar duro, mantendo o mínimo de técnica.


Infelizmente para os fãs, como eu, do esporte bonito e bem jogado, dos passes e dos dribles, o que se tem visto ultimamente é o fortalecimento de anões truculentos, como a Escócia, onde reina o futebol defensivo, feio e de resultados.

No início desta semana, li numa coluna do jornal inglês "The Times" muito do que eu sempre pensei sobre o triste e perigoso caso de amor entre o futebol moderno e o excesso de força física. Deixo registrada abaixo a minha versão em português do texto escrito pelo jornalista Martin Samuel, cujo original pode ser lido clicando neste link.


Um abraço.


------------------------------------------------------------------------------------------------
Não é como assistir ao Brasil

Se a Premier League é a melhor do mundo, como tantos, incluindo Sir Alex Ferguson, têm sugerido, há uma falha difícil de se entender nesse argumento, uma brecha, que se preenchida permitirá que seja dado o próximo passo na evolução do futebol inglês. Nossos clubes de elite dominam a Europa, a riqueza gerada por nosso campeonato nacional e sua projeção mundial são incomparáveis: então onde estão os fabulosos brasileiros?

Os maiores expoentes individuais do futebol, com certeza, fariam questão de jogar numa liga que está a ponto de produzir pelo menos um finalista da Copa dos Campeões, pelo quarto ano consecutivo, talvez sejam dois os finalistas. E mesmo assim, a escassez de brasileiros mostra que dos 52 jogadores chamados nas últimas convocações, apenas sete jogam na Premier League e somente dois deles são atacantes.

O futebol inglês continua a atrair os jogadores medianos, os meio-campistas defensivos, os zagueiros de qualidade questionável. Os grandes do futebol brasileiro moderno - Ronaldinho no seu auge e Kaká mais recentemente - falam de vir à Inglaterra apenas no fim de carreira, como um último contracheque, com seus melhores anos já no passado. Roman Abramovich, dono do Chelsea, anseia ter Ronaldinho em seu time, mas é o nome que ele busca, não o jogador, assim como ele fez com a perda de tempo que foi Andriy Shevchenko. A hora de contratar Ronaldinho foi quando o Manchester United teve a chance em 2003, e ele escolheu o Barcelona, como os grandes sempre fazem.

O Middlesbrough trouxe o atacante brasileiro Afonso Alves, convocado oito vezes, mas já tem suas dúvidas. Elano, do Manchester City, chamado 20 vezes pra Seleção, no início foi um grande sucesso, mas sua influência diminuiu junto com a fase do seu clube. Alex (12 convocações) nunca passará de um reserva de luxo no Chelsea, e é muito cedo pra julgar Gilberto (28 convocações) no Tottenham Hotspur, mas nenhum deles é atacante.

Histórias de sucesso em potencial são as dos jovens, guerreiros: Lucas Leiva (duas convocações) do Liverpool e Anderson (três) do Manchester, também time de Gilberto Silva (63 convocações), único brasileiro a ganhar uma Copa a adotar a Inglaterra como seu lar e parte fundamental do time invencível do Arsenal da temporada 2003-04.

Costumávamos dizer que era culpa do clima, mas por quê? Kaká não escolheu Milão por seus quentes invernos. A Alemanha também não é nenhum refúgio de verão e, no entanto, há mais brasileiros na Bundesliga que na Premier League.

Mesmo quando um jogador criado num grande centro como São Paulo vem a Inglaterra, raramente temos um final feliz. Basta citar Emerson, constantemente deixado de lado pelo Middlesbrough, ou Júlio Baptista, desesperado para se ver livre do time inglês de maior expressão no continente, o Arsenal.

Afinal de contas, são eles ou somos nós o problema? Os brasileiros têm medo do desafio competitivo do futebol inglês, ou será que um episódio como o carrinho de Martin Taylor em Eduardo da Silva - brasileiro de nascimento, lembre-se - é suficiente pra convencer seus compatriotas de que a única razão para uma aventura futebolística na liga inglesa seria se eles gostassem de comida de hospital? E se Cristiano Ronaldo - brasileiro de alma - também resolver nos dar as costas, vamos entender a mensagem?

19 março, 2008

Pérolas da Internet

Essa eu encontrei no início do mês em várias páginas em inglês e decidi traduzir, é universal e atemporal: