Não que isso importe, mas...

23 setembro, 2007

Pra não dizer que não falei das flores

Revista Veja
Nem todo mundo sabe e pouca gente liga, mas no dia 10 passado começou a Copa do Mundo de futebol feminino na China. A primeira Copa foi também na China em 1991, e desde lá a competição vem acontecendo de 4 em 4 anos assim como a dos homens, mas com bem menos badalação.
Muito lentamente, as meninas estão ganhando um merecido destaque internacional, graças principalmente à atenção que a modalidade vem atraindo nas principais potências, que são os Estados Unidos e países do leste europeu. Estranho é constatar que logo no Brasil, o auto-proclamado país do futebol, esse destaque é tímido e não há uma liga feminina, o que dificulta o apoio e o patrocínio. A quem compete criar tal liga? Isso mesmo, à famigerada Confederação Brasileira de Futebol, fábrica de dinheiro de um dos homens com menos caráter e mais poder do Brasil, o Sr. Ricardo Teixeira. O site oficial da CBF, sob protestos, passou a publicar notícias do time feminino mas, enquanto existem arquivos de jogos, jogadores e competições pra todas as categorias do masculino (da principal até a sub-15), o mesmo espaço não é dado às mulheres. Acredito ainda que esse espaço está sendo conquistado, infelizmente à custa de piadas machistas e comentários preconceituosos como "quero ver a troca de camisas no final", ou "nesse time pode me escalar como massagista", ouve-se o absurdo "futebol é coisa pra macho", ou ainda "só tem dragão nessa seleção". E beleza, bem se sabe, não é requisito pra ser uma esportista vencedora, que o digam Paula e Hortência.
O primeiro jogo de uma seleção brasileira feminina de futebol aconteceu em 1986. Desde lá, para os otimistas, parecia que apresentando um bom futebol e conquistando alguns torcedores, o reconhecimento viria mais cedo ou mais tarde. Mas, como esperar não é saber, as meninas não pararam de lutar e melhorar nos últimos anos. O Brasil joga daqui a pouco com a Austrália por uma vaga na semi-final da Copa do Mundo, tendo acabado a primeira fase em primeiro lugar do grupo com 3 vitórias em 3 jogos, 10 gols marcados e nenhum sofrido. Além disso, atualmente entre elas está aquela que foi eleita a melhor jogadora do mundo pela FIFA, a alagoana Marta, e no currículo ostentam um bicampeonato panamericano (ouro em Santo Domingo em 2003 e no Rio este ano), além da prata nas Olimpíadas de Atenas em 2004.
Por causa do fuso horário, os jogos têm acontecido na mesma hora em que estou trabalhando, desta forma, mesmo tendo acompanhado todos os lances dos jogos pelo Placar UOL, só pude assitir a um jogo ao vivo pela televisão, no sábado da semana passada, quando o Brasil ganhou da China por 4 a 0. Tive a oportunidade de ver esse time em ação também no Pan do Rio, já que no nosso pacote de TV paga recebemos a Record Internacional. O que pude testemunhar, nos dois momentos, é que algumas delas não devem nem um pouco em técnica aos atletas do masculino e muitas delas superam os jogadores da Seleção dos homens em critérios como garra, determinação, aplicação tática e uma forte motivação patriótica, qualidades atualmente raríssimas entre os selecionáveis de pernas cabeludas.
É improvável, embora possível, que ganhemos a atual Copa do Mundo, nossa melhor colocação foi em 1999 com um 3º lugar. Devemos passar hoje, mas pegamos em seguida as estadunidenses, que deram uma lição nas inglesas no jogo de ontem e são bicampeãs mundiais, muito bem treinadas, ricas, bem equipadas e todas elas participantes de uma liga bem organizada. Ganhando ou perdendo, nossa seleção feminina é digna de orgulho e merece nosso aplauso pelo belo exemplo de perseverança e sucesso, principalmente se levarmos em conta tantas dificuldades.

07 setembro, 2007

Dois anos

(O texto abaixo foi escrito e publicado em 16/09/2007, por algum erro de configuração, o site colocou a data como sendo 07/09/2007... pois é, até a Google tem o direito de errar)

Pra quem prometia uma retomada de fôlego no primeiro post do ano, eu andei bem ausente, deixando o blog abandonado por mais de 4 meses. Mas voltei hoje, dia em que completamos 2 anos longe de casa. Quase todo mundo comenta: "O tempo passou voando". Há dias que acho mesmo que ele se arrastou, passando bem lentamente.

16 de setembro de 2005 foi um dos dias mais rápidos que eu já vivi. Na verdade, as lembranças dos dias da última semana no Brasil se confundem na minha cabeça e eu tenho a impressão de tê-los vivido todos juntos em 24 horas, tamanha a correria. Além das complicações normais de uma mudança, andávamos preocupados com o dinheiro, já que a libra é bem pesada pra quem carrega reais, havia ainda o problema de escolher o que levar pra evitar o excesso de bagagem, como e onde guardar o que fica. Naqueles dias, repassávamos na cabeça todos em quem ainda queríamos dar um abraço e em como algumas dessas despedidas seriam dolorosas. Nem dormíamos à noite com a mente tão agitada. Hoje, dormimos melhor, pois não nos preocupamos tanto com dinheiro, porque (ao contrário do Brasil) trabalhar muito aqui compensa e o dinheiro dá pra alguma coisa, vemos que as coisas que trouxemos na bagagem foram mais do que suficientes e nem lembramos direito das que deixamos guardadas, só uma coisa ocupa a cabeça do mesmo jeito, a saudade do abraço das pessoas de quem gostamos. Coloco abaixo a primeira foto que tiramos em solo inglês, no aeroporto de Heathrow, um dia depois das despedidas. Sorridentes, mas cansados depois de 17 horas (incluída a longa escala em São Paulo), posamos ao lado do ônibus que nos traria a Canterbury.


Quanto às novidades daqui, não vou tentar resumir os 4 meses, pois o post ficaria ainda mais longo, mas nesse tempo fomos à Bélgica e voltamos a Paris num passeio com mais tempo e mais bem planejado. A foto abaixo foi tirada no Louvre. Os posts mais recentes do fotolog registram nossa passagem por esses lugares (o link continua na coluna direita deste blog, pra quem perdeu ou esqueceu). O projeto do blog de viagens (no qual eu devo comentar mais sobre essas andanças) está de pé, embora esteja demorando, o primeiro post sai assim que eu retomar o pique neste aqui.

Além dos passeios, o que temos pra contar é sobre a chegada do nosso novo colega de apartamento. Ingrid se formou e ela e Wayne tiveram que se mudar... Em boa hora, se me permitem dizer. Não retiro nenhuma palavra que falei sobre eles aqui no blog, há quase um ano. Sim, gostamos muito deles inicialmente e eles continuaram sem frescura, alegres e desenrolados, mas, com o tempo, o sem-frescura virou relaxado e o que era desenrolado tornou-se incoveniente. Nunca entramos em atrito, mas Deus sabe que eu me segurei muitas vezes. Eles foram há 3 meses e atualmente mantemos um bom relacionamento, proporcionado por essa saudável distância entre nós.

O nome do nosso novo inquilino, chamemos assim, é Augustine. Ele é um médico de quarenta e poucos anos, nascido em Hong Kong que mora e trabalha em Chicago, nos Estados Unidos. O nome de santo (Agostinho em inglês) é prova da devoção da mãe católica. Assim que ele confirmou interesse pelo quarto, corremos pro Google, onde ficamos sabendo que ele é bem ocupado, dá aulas a residentes, palestras e gosta de fazer caridade. O que só saberíamos depois, com sua chegada aqui, é que ele adora conversar, tem bom humor, é bastante educado e cuidadoso e tem uma noiva pequenina e simpática. Logo em sua primeira noite, fez questão de nos convidar pra um jantar num restaurante italiano, cuja conta pagou sorridente. Detesta a China e adora os ingleses, seu assunto preferido é história militar, traços que mostram a influência do pai, que serviu no Exército Britânico (Hong Kong era colônia inglesa até 1997, quando a soberania foi transmitida para a China) e tem tudo contra os chineses.

Mas o melhor sobre ele é que ele ocupa pouquíssimo espaço quando está aqui, e raramente está, tanto é que não tiramos foto juntos ainda. É que ele ainda procura se firmar como médico no Reino Unido, vem aqui, faz contatos, visita lugares onde pensa abrir uma clínica, mas logo está de volta aos EUA. Seu contrato conosco é de 1 ano, depois disso, ele acredita já estar bem estabelecido e comprará um apartamento pra ele e pra noiva, que não mora aqui, pois trabalha em Chicago e continua lá até a mudança em definitivo. O que tem acontecido é que, nos 3 meses (período que pagou adiantado no primeiro dia), ele só passou uns 10 dias aqui no apartamento ao todo. Melhor impossível. No entanto, sua presença aqui deve se tornar mais frequente e eu volto a falar do assunto. Encaro esse tempo como um merecido período de folga dos nossos flatmates anteriores. Continuo tirando o lixo sozinho e eu e Val continuamos limpando e arrumando a casa sem ajuda mas, pelo menos, a bagunça e a sujeira não são dos outros.