Não que isso importe, mas...

24 maio, 2006

Pra tudo tem limite 2

Agora, depois de assistir aos 3 primeiros episódios do desenho Popetown e tendo assistido ao filme O Código Da Vinci, venho concluir e finalizar meu post do dia 07 de maio.

Eu explico o porquê do título "Pra tudo tem Limite". É que eu sempre fui a favor da liberdade de expressão, mas acho que ela tem que ser responsável, ainda que irreverente e objetiva, ainda que divertida.

A série Popetown, criada pela emissora britânica BBC, pra quem não sabe, é um desenho animado de 10 episódios que se passa dentro do Vaticano (facilmente reconhecível, mesmo tendo outro nome), onde cada episódio retrata um dia na vida do papa louco, irresponsável e mimado (com sotaque alemão), rodeado dos outros personagens: o padre Nicholas, que tenta salvar tudo, mas está mais interessado em auto-promoção e reconhecimento; uma freira descerebrada, a irmã Marie; 3 cardeais corruptos, que passam o tempo em uma piscina interna em frente a um telão, tramando como lucrar em nome da religião e ficarem mais ricos; e de um bando de padres gagás e desdentados. Apesar de algumas poucas passagens engraçadas, o desenho não chega a agradar. Se o objetivo inicial era divertir escrachadamente, não chega aos pés de South Park, se era satirizar e incluir críticas de forma engraçada, não chega aos pés dos Simpsons, mas se queria chocar e causar barulho, isso eles conseguiram, mas nisso não há um pingo de responsabilidade nem de objetividade. O desenho foi proibido na Inglaterra antes mesmo de ir ao ar, a MTV alemã conseguiu o direito de passar o programa, cuja propaganda mostrava Jesus sentado no sofá e rindo com a série, muitos protestos sem resultado. Não tenho notícias ainda se vai chegar ao Brasil. Os defensores do desenho citam o incidente de 30 de setembro passado, quando o diário dinamarquês Jyllands-Posten publicou 12 charges editoriais com a imagem de Maomé, causando furor na comunidade islâmica que proíbe imagens do profeta e considera crime capital qualquer zombaria com seu nome, onde a maioria defendeu a liberdade de expressão da imprensa. Eu, cá do meu posicionamento neutro (não sou nem muçulmano nem católico), não vejo os episódios como iguais. Mas, sem julgar se um caso é pior que o outro, pergunto: será que vale mesmo a pena tratar assim a crença dos outros? Até que ponto a crítica e/ou a liberdade de imprensa ou de expressão passam dos limites do aceitável?

Do outro lado, há o filme O Código Da Vinci, que também criou uma tremenda polêmica. Acontece que dessa polêmica eu discordo totalmente e não vejo o motivo de tanto barulho, a não ser aumentar o marketing ao redor do filme, que tem a primeira semana de melhor bilheteria do ano (batendo A Era do Gelo 2). Fomos assistir ao filme do diretor Ron Howard (o mesmo dos excelentes Cinderella Man e Uma Mente Brilhante) na segunda-feira e trata-se de ótimo divertimento, assim como deve ser o cinema. O roteiro é fiel na medida do possível ao livro, óbvio que sempre há algumas alterações, umas necessárias, já que o veículo é diferente, outras desnecessárias, talvez na tentativa de "melhorar" a história ou retratar melhor a visão de quem a adaptou. Na minha opinião, não se trata de um filme brilhante, assim como o livro (acho o anterior Anjos e Demônios, que também deve virar filme, melhor), é uma boa história, recheada de clichês, onde o autor usa alguns fatos históricos e artísticos interessantes e dá sua interpretação (às vezes forçada, às vezes curiosa), criando uma série de pistas que desvendarão um segredo milenar. Mas é importante lembrar que se trata de uma obra de "ficção" que "não" ataca diretamente nenhuma instituição ou crença. A Opus Dei, na tentativa de diminuir o estrago que o filme supostamente causaria à sua imagem, tentou até obrigar a Sony (produtora do filme) a colocar um aviso dizendo em outras palavras: "não somos bem assim", mas não obtiveram êxito. Proibido em alguns países e com trechos de sua trilha sonora censurados aqui na Grã-Bretanha (!), o filme deve agradar mais àqueles que não leram o best-seller. O ritmo do thriller é por vezes irregular, algumas soluções parecem muito rápidas e Sophie Neveu parece ter perdido muito de sua inteligência e força na adaptação, não por culpa de Audrey Tautou. Na minha opinião, como acontece geralmente, deixa a desejar se comparado ao livro, mas como eu já disse, é diversão garantida. Além disso, o filme parece ter dado continuidade a um fenômeno importante que começou com o sucesso do livro, o interesse pela arte. Não importa que motivo as levou a isso, mas muitas pessoas têm ido ao Louvre e a outros locais que serviram de palco à estória, cheios de curiosidade e prontos pra dar sua própria interpretação ao dito código e quem sabe, no caminho, ver outras obras interessantes. O museu criou um roteiro de visitas baseado no livro e seus organizadores estão bastante satisfeitos, afinal de contas, quanto mais pessoas se interessarem e discutirem arte e história, melhor.

19 maio, 2006

Bodas de papel

Voltamos. A Irlanda é muito bonita, uma terra mais fria que a Inglaterra e muito chuvosa. Ainda assim, teimosamente, passeamos sempre. Conhecemos bem Dublin, cidade pequena em área, mas rica em história e cultura, esse tamanho nos ajudou, já que não há melhor jeito de conhecer uma cidade do que andando por suas ruas. Conhecemos ainda os arredores de Dublin, graças a Aisling, que nos hospedou maravilhosamente. Vou dedicar mais posts à Irlanda, colocando fotos e contando algumas histórias, as quais faço questão de deixar registradas a fim de revisitar e relembrar.

A foto abaixo foi tirada num passeio que fizemos por um dos condados vizinhos a Dublin, o County Wicklow. O nome do lugar é Glendalough, que vem do irlandês Gleann Dá Locha, que significa O Vale dos Dois Lagos. Nesse lindo e tranquilo vale se encontram as ruínas de um mosteiro criado no século VI por S. Kevin, um padre eremita. O lugar abrigava 7 igrejas e uma das primeiras universidades do mundo ocidental, e virou local de peregrinação. Podemos ver as ruínas da catedral de 1200 anos, uma das primeiras cruzes celtas e uma torre redonda de aproximadamente 34m que impressiona por sua idade, por sua conservação e por se sobressair na paisagem. A torre possui 4 claustros e também era usada como refúgio em caso de ataques e como depósito.

Ontem, 19 de maio, eu e Val completamos 1 ano de casados. Foi uma época de adaptação, provações, aprendizado, muito amor, companheirismo, compreensão, perdão, renovação, mais amor e muitas realizações. Tenho certeza de que muito mais está por vir, nada indica que o que vem será mais fácil ou mais difícil, mas não será impossível se nosso amor continuar como é. Pensei numa música, numa poesia, elas diriam melhor, mas não seriam tão pessoais, daí resolvi colocar aqui algo que eu escrevi pra Val há algum tempo, quando éramos ainda dois namorados apaixonados. Eu resgato agora essas palavras que estavam perdidas, mas que nunca perderam o significado. Feliz aniversário de casamento, gatinha. Que as alegrias desse primeiro ano se multipliquem e que o amor de sempre se renove nos próximos.

"A Val não é a pessoa que ela parece ser, ela é muito mais interessante. Por trás daquele olhar enigmático, daquele jeitinho meigo, daquela voz suave, existe uma mulher linda e apaixonante. O que falar da minha outra metade? Minha gatinha é uma escritora brilhante (embora tímida), é extremamente responsável, carinhosa e sincera. Sabe ser firme e amolecer na proporção e horas certas. Enfim, ela é poesia, é minha alegria, é fogo, é paz, é meu sonho bom. Transformou a minha vida de forma que me faz esquecer de qualquer medo de onde o futuro possa me levar, desde que ela vá ao meu lado. Bastaria dizer que se houver boas qualidades em mim, muitas eu devo ao nosso tempo juntos. Eu mudei, mudarei e mudaria toda a minha vida novamente pra estar com ela. Val, amo você... o tempo inteiro."

07 maio, 2006

Pra tudo tem limite

Quem me conhece sabe que eu não sigo nenhum dogma religioso. Não vou entrar no mérito da questão, mas o fato é que procuro achar um fundo de verdade para cada uma das várias formas do homem entender Deus. Assim como respeito qualquer tipo de opinião de quem quer que seja, tenho o maior respeito por todos os diferentes tipos de religião. A falta desse tipo de respeito leva à discórdia e às desavenças e até a guerras milenares e aí, todo mundo só tem a perder. Mas, por que será que eu decidi tocar em um assunto tão delicado no meu blog?

É que eu ando mais antenado por aqui do que estive em algumas épocas em casa. Procuro ficar bem informado, seja lendo a Folha de São Paulo, navegando pelo portal da UOL (fico até sabendo o que é Belíssima, Rebelde e Ídolos), da BBC News ou, graças a meu amigo poeta e escritor André, lendo a revista Veja e dá pra ficar por dentro do que se passa no mundo de forma geral. Não senti nenhuma vontade de comentar aqui sobre as trapalhadas diplomáticas do Brasil no caso do gás na Bolívia e muito menos a greve de fome do Garotinho, mas um assunto me chamou a atenção em dois artigos em edições recentes da Folha de São Paulo e a ligação entre eles é a religião e a forma de abordá-la em uma obra criativa. Ambos apareceram online no suplemento Folha Ilustrada.

O primeiro (de 04/05), trazia a seguinte manchete: MTV alemã obtém o direito de transmitir "Popetown" e o segundo, era de anteontem (06/05) sobre um assunto recorrente há muitos meses: Opus Dei patrocina grupo que combate "O Código Da Vinci". Eu coloquei os links pra que mais pessoas que não tenham lido possam ler e formar alguma opinião. Estou baixando os primeiros episódios do desenho e, apesar de já ter lido o livro, vou esperar estrear o filme pra comentar mais sobre os dois assuntos.

Este é o primeiro post que eu faço fora de casa. Estamos na Irlanda, em Dublin, casa de Aisling e só planejamos voltar pra Canterbury no dia 18. Chegamos ontem à noite na terra de James Joyce depois de 45 minutos de um vôo muito tranquilo. Por isso, não tenho certeza de que vou poder atualizar sempre o blog, mas escrevo assim que der.

Um abraço a todos.

03 maio, 2006

Dois dias em duas horas

Calos nos pés, corpo dolorido, algumas fotos, a impressão de que o tempo passou muito rápido e a certeza de que não deu pra ver metade do que queríamos, esse foi o saldo de nosso passeio a Londres.
O primeiro dia voou. Eu, Val e Aisling chegamos já um pouco tarde, pegamos o metrô na Victoria Station e fomos encontrar Manuela que nos acomodou na casa de sua avó, na região central de Londres, próxima ao British Museum. Na mesma hora, ligamos pra Geninho (Vinícius) que estava acomodando Fernando e eles dois foram nos encontrar. Saímos os 6 para almoçar na Chinatown londrina. Com a barriga cheia, começamos a caminhada.
Passamos por alguns lugares óbvios, pelos quais não poderíamos deixar de andar, em cada um deles, fotos e muita pressa.

Paramos em Piccadilly Circus, um lugar lotadíssimo onde 5 ruas movimentadas se cruzam em frente a uma fonte de bronze. Aos pés desta fonte, várias pessoas sentadas, olhando para o nada, conversando, bebendo vinho ou descansando de uma caminhada. No alto da fonte, apesar de bastante singelo, um dos símbolos de Londres, a escultura de um anjo que simbolizava originalmente a caridade cristã, mas que se popularizou como estátua de Eros, deus do amor. É uma das primeiras esculturas em alumínio.
Seguimos nossa caminhada, passando por Leicester Square, onde ficam os maiores cinemas como o Odeon e o Empire, casas de espetáculos e sedes de rádios. É aqui onde normalmente acontecem as principais Premieres na Inglaterra. Uma linda pracinha abriga as estátuas de Shakespeare e Charles Chaplin e tulipas multicoloridas.
Adiante, passamos por Trafalgar Square, com a imponente coluna de Nelson. Monumento de 56 metros de altura erguido em homenagem a Horatio Nelson, herói da Batalha de Trafalgar entre Inglaterra e França em 1805. O lugar é muito mais bonito à noite. Seguimos com um sorvete pra acompanhar, apesar do ventinho frio :)
Continuamos passando pela Horse Guards Parade, onde acontece a troca da guarda. Pegamos só o finalzinho e muito cocô de cavalo por todo o canto. Um pouco mais adiante, a Downing Street, onde no número 10 fica a residência e escritório do Primeiro Ministro Inglês há cerca de 100 anos. É lugar de reunião da cúpula do governo e recepção para ilustres do mundo inteiro. Uma pena ser tão gradeado e cheio de seguranças (embora bastante compreensível nos dias de hoje).

Mais adiante, o mais reconhecível cartão postal londrino, o palácio de Westminster que abriga as casas do Parlamento, a Victoria Tower e a Clock Tower, com o sino de Westminster e o Grande Relógio de Westminster, o famoso "Big Ben".
Atravessamos a ponte sobre o Tâmisa impressionados com uma roda gigante de 135 metros, o London Eye, um observatório com 32 enormes cápsulas cheias de gente e uma vista que deve ser imperdível. Não entramos ainda, mas eu tou tentando convencer Val a ir :)) Ao redor da fila quilométrica pra entrar no London Eye, vários artistas de rua se apresentavam. Tinha músico, palhaço, pintor, malabarista, estátua etc. Pegamos o metrô na Waterloo Station, logo depois de tirar uma foto em frente ao IMax (o que há de mais moderno em cinema), em direção ao fantástico prédio da 30 St. Mary Axe, criação do arquiteto Norman Foster e apelidado de "The Gherkin" pela população. O apelido gherkin é como se diz em inglês o nome de um tipo de pepino e foi difundido quando o jornal The Guardian chamou o prédio de erotic gherkin, aludindo à sua forma fálica. Por isso, para alguns, ele é também o "Cucumber", ou seja, pepino :)

Essas idas e vindas foram suficientes pra nos atrasar pra o espetáculo de dança a que fomos assistir à noite. Ainda bem que conseguimos entrar e voltamos satisfeitos. O domingo foi mais cultural e fechado, fomos ao Science Museum e ao County Hall, onde vimos as exposições da Pixar Studios (criadores de Procurando Nemo, Os Incríveis, Toy Story, Monstros S.A. etc.) e de 500 obras do gênio louco Salvador Dalí, respectivamente. Voltamos pra casa também na maior correria, marca de uma cidade onde, por ser tão fácil perder a hora, as pessoas ficaram famosas pela pontualidade. Pra conhecer bem um lugar tão grande e rico culturalmente, só mesmo vários desses fins de semana. Por isso, temos certeza de que vamos voltar lá e espero estar mais bem preparado.